por que
achei graça em teus olhos, para que faças caso de mim, sendo eu uma
estrangeira?
Rute, para
mim, é a analogia perfeita do processo de aceitação e vivência do evangelho
pelo qual passa qualquer um que aceita viver no/pelo povo de Deus. quando
aceitamos fazer parte do povo santo, imediatamente renegamos o nosso passado, a
nossa história e os caminhos pelos quais já havíamos andado. O que se passou é
completamente irrelevante frente à grandeza do destino que resolvemos trilhar.
quem nós fomos é completamente apagado quando decidimos fazer a poderosa e
sincera oração de rute:
não me
instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu
fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu
povo, o teu Deus é o meu Deus.
Na vida
cristã não existe o meio-termo da insegurança em que se pode cohabitar
tranquilamente entre os dois universos: do pecado e da graça. a decisão é
sempre unilateral e excludente: ou um ou outro. assim como Rute, não era
possível seguir o povo de sua sogra e permanecer na terra em que estava; ou
então dizer que eram o mesmo povo, mas não possuíam o mesmo Deus. pelo
contrário: é uma entrega completa - e irremediável. é uma decisão radical, que
altera completamente a vida de que a toma. seguir a Cristo é irremediavelmente
um correr para os braços metafísicos da divindade e afastar-se vigorosamente
dos enlaces do pecado. da terra do pecado. da imersão numa atmosfera em que a
densidade do ar nos impeça de respirar o puro e santo oxigênio celeste.
Só é possível
ser parte do povo de Deus, se aceitarmos a incrível e completa decisão de
habitar em suas terras. Se fizermos o nosso descanso e morada perante a graça e
misericórdia divinas. há um leito preparado especialmente para cada um de nós -
o próprio Deus preparou a vaga que nos compete, afogou a terra onde pisaremos e
cavou os buracos da fundação do templo da nossa existência. Foi o próprio Deus
que abriu as portas de seu reino para que pudéssemos nos achegar perante sua
face, ainda que num vislumbre imperfeito, através de simples e discretas
orações; fortes e concretas decisões. Deus está ansioso para que façamos parte
de seu povo.
Deus sonha
com o dia em que eu e você, assim como Rute, nos achegaremos aos seus campos de
trigo para buscar pão. pão da vida. para buscar alimento para a nossa
existência cansada de alimentar-se das migalhas, que não saciam, que esse mundo
é capaz de nos oferecer - em troca de todas as moedas de vitalidade que temos
conosco. o mundo não está disposto a nos tirar a fome, mas a alastrar a fome
que reside em nossa alma. uma fome constante e crescente de um alimento que não
podemos encontrar em outro lócus que não seja o próprio Deus. somente as
espigas de milho do evangelho são capazes de nos saciar.
É preciso,
então, que saiamos aos campos para procurar. os campos estão maravilhosamente
arados e preparados para o nosso encontro, mas é preciso que levante-se, saia
de seus lugares e, ainda que já faça parte (ou diga fazer parte) do povo de
Deus, invada a seara e colha seu alimento. estar no meio da congregação não é
certeza de saciar-se. é preciso buscar. é preciso pedir para que o Deus da
seara nos preencha com seu alimento. nos transforme com sua presença e, acima
de tudo, nos dê a proteção da Sua bênção. e, por mim, declare para nós, da
mesma forma que boaz declarou para Rute:
o Senhor
retribua o teu feito; e te seja concedido pleno galardão da parte do Senhor
Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.
Que nessa
manhã possamos colocar a nossa vida debaixo das asas protetoras divinas que, no
enlace, estamos prontas e determinadas a nos proteger. que sejamos capazes de
largar a nossa vida sem pestanejar e correr para o encontro tão almejado com o
Redentor. os campos de alimento espiritual estão arados e à nossa espera: o
tempo urde, é hora de alimentar-se. e ter a vida plena, saciada. e ter, acima
de tudo, a certeza de que o povo de Deus é o nosso Deus; que o reino de Deus é
o nosso reino; e que a vitória de Deus é a nossa vitória.
Descanse na
salvação, bom dia!
Stefano Manzolli, antes de ser formado em Letras,
pensava
em ser jornalista, mas antes ainda quis
ser astronauta, ator e detetive.
No
final das contas, entre tanta indecisão,
preferiu ser escritor e descobrir
galáxias - nem que fosse dentro de si mesmo.
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